sábado, 24 de março de 2007

Os partidos políticos


(Caricatura de Bordalo Pinheiro
Anselmo Braancamp distribuindo panfletos, seguido de Luciano de Castro, antes das eleições de 1879)

O século XIX em Portugal, nomeadamente após o advento do liberalismo, foi caracterizado por grande instabilidade política partidária, num regime constitucional, muito embora a afirmação hegemónica do Partido Regenerador da Fontes Pereira de Melo de cariz conservador, que colhia o proverbial favoritismo real.

As principais forças de oposição a esse partido são os denominados Históricos, chefiados pelo Duque de Loulé e os reformistas de Alves Martins, mas que desempenhavam um papel claramente subalterno.

Parecia pois ser fundamental reconhecer a necessidade de reorganizar o espectro partidário oposicionista.

Em 1876 foi firmado um pacto entre estas forças conhecido pelo Pacto da Granja que aglutinou num chamado Partido Progressistas estas duas forças.

O rotativismo podia agora assumir novos contornos, com as novas condições criadas, pela convergência encontrada pelo programa progressista claramente liberal em contra-ponto ao conservadorismo fontista.Essa a teoria a prática foi contudo bem diferente.

Desde a Granja até á sua morte foi Anselmo Braancamp, quem chefiou o Partido Progressista, tendo José Luciano de Castro assumido então a chefia desse partido em 10 de Dezembro de 1885, numa disputa bem cerrada como não podia deixar de ser na época.

Luciano de Castro representou o triunfo de centrismo nesse partido balizado por outras candidaturas como Mariano de Carvalho, Barros Gomes ou João Crisóstomo. Assume a chefia do primeiro governo Progressista em 20 de Fevereiro de 1886, sendo o primeiro ministro quando da morte de D.Luís I, continuando já depois da aclamação de D.Carlos I, até ao dia 14 de Janeiro de 1890 na sequência do ultimatum inglês, que adiante se abordará.

Mas o panorama partidário , não se resumia ao Progressistas e aos Regeneradores, havia que levar em contas outras forças minoritárias como o Partido Socialista fundado em 10 de Janeiro de 1875 que se dizia marxista, os avilista, seguidores de António José de Ávila o chefe de governo do gabinete de interregno entre os fontista e o primeiro governo progressista.

Enfim um grande confusão

Conforme escrevia Ramalho Ortigão, o monarca lavrou então o decreto mandando o seu antigo ministério bochechar e encarregou o senhor marquês de Ávila e Bolama de reunir com os seus amigos o número de dentes necessários para formar uma gerência duradoura e firme

O mesmo autor observava que em Portugal em vez da lógica conservadores/revolucionários

havia uma maioria parlamentar e uma oposição composta de vários grupos dissidentes.
Estes grupos são fragmentos dispersos do único partido existente – o partido conservador – fragmentos cuja gravitação constitui o organismo do poder legislativo.
Estes partidos, todos conservadores, não tendo princípios próprios nem ideias fundamentais que os distingam uns dos outros, sendo absolutamente indiferente para a ordem e o progresso que governe um deles ou que governe qualquer dos outros, conchavaram-se todos e resolveram de comum acordo revesarem-se no poder e governarem alternadamente segundo o lado para que as despesas da retórica nos debates ou a força da corrupção na urna faça pesar a balança da régia escolha.
Tal é o espectáculo recreativo que há vinte anos nos está dando a representação nacional.


Fica a ideia geral da "luta partidária", quando da subida ao trono de D. Carlos I

segunda-feira, 19 de março de 2007

O casamento-A boda e os primeiros tempos

(O palácio de Belém)

O casamento real aconteceu no dia 22 de Maio de 1886 na igreja de S.Domingos em Lisboa.

Constando do programa uma série de recepções no paço, jantares e bailes de corte, récitas de gala nos teatros, tourada á "antiga portuguesa" na praça do Campo de Santana (foi inaugurada em 31 de Julho de 1831), duas corridas de cavalos no hipódromo de Belém, uma quermesse no Jardim Zoológico e um sarau no Real Ginásio Clube Português, etc.

D. Amélia e o seu séquito composto por 57 pessoas, havia chegado a Portugal dois dias antes à estação de Santa Apolónia, ficando depois hospedados no paço das Necessidades.

Muita gente da província, veio a Lisboa para assistir ao casamento real, mas o povo poucas vezes teve oportunidade de ver o casal, exceptuando a passagem dos coches pela ruas de Lisboa.

A única cerimónia ao ar livre foi uma parada militar no dia 25 de Maio.

Só a selecta assistência no teatro S.Carlos pode ver a princesa D.Amélia de perto, no dia em que se ouviram o primeiro acto da ópera Semiramis e dois actos da Aida de Verdi, ou a que esteve presente no baile de gala no dia 28 do mesmo mês.

Como quase sempre em Portugal, o aspecto financeiro é um factor importante, sobretudo quando se vive com dificuldades o que era manifestamente o caso, tanto assim que D.Luís havia considerado a hipótese de adiar o casamento, devido ao aperto financeiro existente, pois o parlamento havia disponibilizado menos dinheiro do que o havia concedido para o casamento de D.Luís, a quantia de 107 contos.

Os jovens príncipes foram viver para o palácio de Belém, em frente ao Tejo, construído por D.João V na primeira metade do século XVII e que servia até essa altura para hospedar visitantes a Lisboa.

Aqui nasceram os seus filhos, D. Luís Filipe e D. Manuel II , que foram baptizados na capela palatina, bem como um parto prematuro de uma infanta de nome Maria, que não sobreviveu.

A vida "modesta" a que foram obrigados a viver com um magro orçamento de 40 contos anuais, não impediram que uma "obrinhas" em casa tenham sido feitas, contratando os grandes pintores da época como Columbano Bordalo Pinheiro e José Malhoa para decorar algumas salas.


quinta-feira, 15 de março de 2007

O casamento-A escolha da Raínha

(D.Amélia de Orleães)

Não foi fácil arranjar casamento para o infante D.Carlos, muito por causa das diferenças religiosas, com os países cuja religião não era católica, nomeadamente os do norte da Europa, já que as exigências de D. Luís em relação ao casamento do seu herdeiro eram demasiado rigorosas.

Foi fundamentalmente pelo facto da coroa portuguesa ter exigido que uma das primeiras escolhas, uma filha de Frederico Guilherme príncipe imperial da Alemanha, se convertesse ao catolicismo antes do casamento, que esse casamento fracassou.

Bismark o chanceler alemão havia até sugerido uma pequena habilidade para contornar essa dificuldade, que consistia na autorização pela parte de D.Luís que a princesa se convertesse apenas depois do casamento, quando já fosse princesa portuguesas, portanto já isentada dos seus deveres enquanto princesa alemã face ao protestantismo.

Tratava-se afinal de uma neta da Rainha Vitória de Inglaterra o que deveria traduzir-se num casamento de grande interesse político para Portugal, uma
Rainha, neta da rainha da maior potência marítima do Mundo e filha do príncipe alemão a mais forte nação continental.

Após o fracasso quanto ao desbloqueio desta hipótese, foi então recomendado o nome da filha mais velha do Conde de Paris, D.Marie Amélie Louise Hélène d Orléans.

Seu pai havia sido o neto em quem Luís Filipe "Rei dos franceses" tentara sem sucesso abdicar em 1848, e que lhe valera afinal o exílio em Inglaterra, por decreto republicano e onde viria afinal a nascer em 28 de Setembro de 1865, na vila de Twickenham, a sua filha Amélia.

Em 1886 porém já haviam regressado a França, quando D.Carlos visitou a sua potencial noiva em Chatilly.

Pode dizer-se que a correspondência que D.Carlos trocou com o rei D.Luís, foi reveladora do entusiasmo que desde a primeiro instante, lhe provocou Amélia "não acredito que haja no Mundo, criatura mais adorável que a princesa, um verdadeiro encanto"dizia ele.

Talvez a sua altura (1,82 mt) e o seu porte atlético a fizesse destacar em termos físicos, mas por outro lado é possível que a sua qualidade intelectual, se aproximasse bastante dos interesses de D.Carlos, cuja preparação cultural e gosto pelas artes sempre se haviam patenteado desde criança.

Amélia de Orleães gostava igualmente de ópera e de teatro, pintava e lia muito, sendo portanto difícil por certo encontrar "partido" mais interessante para D.Carlos

quarta-feira, 14 de março de 2007

A educação


Os primeiros tempos da infância de D.Carlos, tenha sido passada na maior parte do tempo no palácio da Ajuda que ficava na altura "fora de portas", para além da estrada de circunvalação que rodeava Lisboa.

A família real morava realmente no campo, apenas ia a Lisboa, para algumas festas ou para ir ao teatro, por vezes normalmente no tempo mais quente, aparecia no Passeio Público (hoje a Avenida da Liberdade), ou no Campo Grande.

Vivam entre muros de palácios Ajuda, Mafra, Queluz, rodeados de matas onde caçavam, actividade que pode dizer-se era a principal de toda a família masculina, incluído Carlos e Afonso, que também caçavam com armas de fogo em tamanho para criança.

No palácio os infantes viviam separados dos pais, mas espaço não faltava.

Por motivos financeiros, a corte portuguesa era recatada nos seus hábitos, não passava férias no estrangeiro, Sintra e a cidadela de Cascais, aconteciam no Verão e no Outono.

Relatam-se as aspectos bem típicos do ser português, nestas vivências de férias de verão, quando os infantes desciam á praia de Belém, as mulheres e as crianças beijavam-lhes as mãos ao mesmo tempo que esperavam a retribuição real em tostões, tal como fazia el-rei D.Luís em Cascais, que mesmo quando vinham trazer oferendas á cidadela esperavam a respectiva recompensa em dinheiro.

Era pois muito restrita a vida dos jovens príncipes, porém se os afastaram da sociedade, a sua educação foi esmerada e atenta aos aspectos culturais.

A instrução de D.Carlos impressionou sempre muito os seus contemporâneos.

A sua educação fora orientada por alguns dos melhores mestres da altura, mas note-se que segundo o mesmo sistema que se utilizava no serviço público, mas com uma carga horária terrível, bastante apertada e com pouco tempo de férias.

Grande contraste havia entre a aplicação de D.Carlos e de D.Afonso que reconhecia que o mano dava muita atenção ao que o professor dizia ele é que "não faço senão abrir a boca quando vou ouvir a lição" (Tomas Breyner vol II p.40).

Por volta de 1883, tinha D.Carlos 20 anos, passou oficialmente á imprensa informações sobre a educação do príncipe. Entre outras informações, havia aprendido, francês, italiano, espanhol, inglês e alemão.Varias matérias relacionadas com ciências sociais, história, filosofia, direito, organização pública.

Enfim todo um conjunto de matérias que visava, claramente a sua preparação para o futuro, identificado com os princípios e práticas da governação do Estado, assente numa orientação liberal.


sábado, 10 de março de 2007

Afonso Henrique o "Arreda"


Afonso Henrique Maria Luís Pedro de Alcântara Carlos Humberto Amadeu Fernando António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Valfando Inácio de Bragança

era este o singelo nome do único irmão de D.Carlos, filho de D.Luís e D.Maria Pia de Sabóia.

Foi Duque do Porto ,Condestável de Portugal e o último vice-rei da Índia Portuguesa .

General do exército, inspector da arma de artilharia e comandante honorário dos bombeiros voluntários da Ajuda.


Chegou a ser nomeado pela cortes, herdeiro da coroa, durante o reinado de D.Manuel II seu sobrinho.

Após a implantação da Republica, exilou-se em Itália, com sua mãe.
Casou-se em Madrid em 1917, e desse casamento morganático (quando alguém de sangue real se casa com pessoa de condição inferior não transmitindo prerrogativas) não teve filhos.

Faleceu em Nápoles em 1920 com 55 anos. Encontra-se sepultado no Panteão dos Bragança em S. Vicente de Fora, Lisboa, para onde foi transladado em 1921.


Ficou conhecido em Lisboa pelos seus gritos de "Arreda, arreda" quando conduzia carruagens e automóveis loucamente pela cidade.

Espírito simples e de ambição política reduzida.
"O rei foi o mano e agora é o meu sobrinho. Eu sou apenas o infante, ou o "Arreda" como me chamam", terá dito quando após o regicídio foi desinquietado para outras funções públicas.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Nascimento

D.Carlos nasceu no dia 28 de Setembro de 1863, na sala verde do Paço da Ajuda em Lisboa. Foi-lhe dado o nome de Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança* , foi o penúltimo Rei de Portugal .

Filho do rei Luís I de Portugal e da princesa Maria Pia de Sabóia.

Parto assistido por José Eduardo Magalhães Coutinho um dos pioneiros do uso de anestesia nos partos, através da administração de clorofórmio.

Alguma confusão se instalou na altura na corte, pela decisão do rei D.Luís de não deixar, que nenhum dos cortesãos entrasse no quarto da rainha e ao não mostrar o filho.

Perante essa recusa alguns conselheiros se recusaram a assinar o respectivo auto de nascimento, "uma salsada" segundo a condessa de Rio Maior.

Finalmente todos os convidados puderam assistir á primeira benção do príncipe pelo cardeal-patriarca.Algumas condecorações a personagens da corte e uma missa te Deum na Igreja de São Domingos, pelas 5 da tarde, concluíram o dia de nascimento do príncipe.

Muitos dias se seguiram de festa, edifícios públicos e residenciais iluminados de noite, bandas filarmónicas tocavam pelas ruas e deram-se muitas recitas em vários teatros.

Decretou-se amnistia para diversos crimes.

Aparentemente este nascimento viria colocar alguma tranquilidade na corte pela sucessão.

Da descendência de D.Maria II, a morte de D.Pedro V e dois dos seus quatro filhos, morreram subitamente com suspeitas de envenenamento, lançando muita insegurança, pelas ameaças que ainda pairavam de restauração das aspirações miguelistas, ou o regresso ás guerras civis e ao golpismo anterior á Regeneração.

D.Carlos foi baptizado a 19 de Outubro na igreja de São Domingos.

*Os últimos sete nomes invocam anjos e santos protectores, tradicionalmente usados na família Bragança.Os primeiros cinco homenageavam parentes : Fernando, nome do avô paterno, Luós o do pai,María o da mãe, Vitor do avô materno Vitor Emanuel II o primeiro rei de Itália.
Carlos afinal homenageava a memória do avô materno, rei da Sardenha.