sábado, 28 de abril de 2007

Tratado de 20 de Agosto de 1890


(Hintze Ribeiro)

Este tratado assinado entre Portugal e Inglaterra, teve por fim delimitar as possessões portuguesas ao norte do Zambeze e se reconhecia em todos os territórios africanos de ambos os Países a liberdade religiosa de culto e ensino, acentuando a liberdade recíproca de navegação e comércio nos rios e se proclame inteiramente livre para os navios de todas as nações a navegação no Zambeze, Chire e seus afluentes.

Assim se confirmava a perda de tudo o que Portugal já havia sido obrigado a abandonar pelo Ultimato, como ainda se abria mão de territórios não contestados ao norte e ao sul do Zambeze e se facultava um novo campo à colonização inglesa.

A assinatura deste tratado foi considerado como mais uma humilhação infligida pela Inglaterra a Portugal, dando origem a uma nova onda de manifestações de protesto.
(retirado de História de Portugal em datas de António Simões Rodrigues)

Como aconteceu quando da afronta do Ultimato, cada partido pensou sempre mais na forma como poderia retirar dividendos , do que na apregoada afronta a Portugal. Difícil seria uma oposição firme de Portugal ao poderio inglês, quando as carências financeiras já para não falar nas diferenças de dimensão territorial e demográfica entre ambos, nem permitiam criar condições para a manutenção duma carreira fluvial permanente com as possessões africanas.

Os ingleses tinham continuado após o Ultimato exigindo uma solução para os problemas coloniais, ameaçando que, no caso de não ser possível um acordo bilateral, entregar a resolução do problema à poderosíssima British South African Company, fundada por Cecil Rhodes e que se tornara entretanto chefe do governo da província do Cabo.

Esta solução atemorizou o governo português. Significaria uma guerra, impossível de ganhar e que traria provavelmente no imediato a perda integral, pelo menos do território de Moçambique.

Hintze Ribeiro, ministro dos Negócios Estrangeiros escrevia a D.Carlos, quando da altura da assinatura do Tratado que, os termos "pareceram consentâneos com o bem do País", que quereria dizer que se obtivera o que fora possível com o que por certo el-Rei concordaria, mas que naturalmente a oposição Progressista iria aproveitar para contabilizar a seu favor.


quarta-feira, 25 de abril de 2007

Mário de Sá Carneiro-19 de Maio de 1890


Ao meu neto
O princípio que norteia, a criação deste blogues, aparentemente sobre História de Portugal e o estudo biográficos dos nossos Reis, não o é inteiramente. Em primeiro lugar não quero falar-te só de História, mas de factos e de pessoas que aconteceram e que considero importantes. Arquivá-los na "gaveta" de cada um dos Reis acontece porque surgiram na época em que reinaram.
*********
Falamos de um dos maiores poetas do Modernismo, na minha opinião.

A poética decadentista sem preocupação literária formal, centrando a sua temática na sua própria existência e no seu profundo pessimismo.

Nasceu em Lisboa em 19 de Maio de 1890, órfão de mãe apenas com 2 anos, foi educado pelos avós na Quinta de Vitória em Camarate.

Em 1900, entrou no liceu do Carmo, começando, então, a escrever poesia. Filho de família abastada visitou muito cedo Paris, Suíça e a Itália, na companhia do Pai, com quem atendendo ás suas inúmeras viagens, não tinha muita proximidade e só muito esporadicamente aconteceu , na sua breve vida de 26 anos.

Transferido, em 1909, para o Liceu Camões, escreveu, em colaboração com Thomaz Cabreira Júnior (que viria a suicidar-se no ano seguinte), a peça Amizade. Impressionado com a morte do amigo, dedicou-lhe o poema "A Um Suicida".

Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1911, mas não chegou sequer a concluir o ano. Muito embora tenha ido mais tarde para Paris para estudar em Sorbonne,não obteve igualmente êxito, porque a vida boémia dos cafés e salas de espectáculo, por certo lhe não permitiu maior dedicação académica

Iniciou, entretanto, a sua amizade com Fernando Pessoa, com quem viria a projectar a revista literária que se viria a publicar com o nome de Orpheu, cujo primeiro número, saído em Abril de 1915 e imediatamente esgotado, provocou enorme êxito no meio cultural português, não suficiente contudo para convencer o pai de Mário de Sá Carneiro a subsidiar o número 3 da revista.

O delírio e a confusão dos sentidos, marcas da sua personalidade, sensível ao ponto da alucinação, que o levara a por várias vezes ter comunicado por escrito o seu suicídio a Fernando Pessoa, que viria a acontecer a 26 de Abril de 1916, num Hotel de Nice, suicídio esse descrito por José Araújo, que Mário Sá-Carneiro chamara para testemunhar a sua morte.

...Um dia, 26 entrou ele no meu escritório como costumava, depois de falarmos uns momentos disse-me - Araújo preciso que você vá hoje a minha casa ás 8 h, em ponto, sem falta. Assim fiz, quando entrei no quarto, notei que ele estava deitado, muito naturalmente perguntei se lhe doía a cabeça; foi então que ele disse - acabei agora de tomar cinco frascos de arseniato de estricnina, peço-lhe que fique - corri logo abaixo a buscar um copo de leite, ao mesmo tempo dizia ao criado para subir com o mesmo, enquanto eu ia ao comissariado procurar um médico e ao mesmo tempo um automóvel para o conduzir a um hospital, tudo isto tinha sido feito rapidamente, quando subi com os dois agentes para o transportar ao automóvel, foi então que presenciei a cousa mais horrível que se pode imaginar. Sá-Carneiro agonizava, congestionado numa ânsia horrível, todo contorcido, as mãos enclavinhadas, momentos depois expirava; nada havia que o salvasse, eram 8 horas e 20 minutos...

(passagem da carta de José Araújo a Fernando Pessoa publicada integralmente em http://www.prahoje.com.br/pessoa)

Deixou a Fernando Pessoa a indicação de publicar a obra que dele houvesse, onde, quando e como melhor lhe parecesse.

Ficam dois poemas dos que mais gosto

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se lançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar. ..

1º de Maio em Portugal em 1890



(August Spies um dos enforcados em Chicago)

No dia 1º de Maio de 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação pacífica, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho. A polícia reprimiu a manifestação, dispersando a concentração, depois de ferir e matar dezenas de operários.

Não é uma simples data que se comemora, deste incidente resultou a prisão de oito líderes do movimento. Quatro foram condenados à morte por enforcamento e os restantes a prisão perpétua.

Em 1890, o Congresso americano vota a lei que estabelece a jornada de oito horas de trabalho e três anos mais tarde, depois da reabertura do processo que levou à condenação dos oito operários, conclui-se que a bomba que explodiu em Chicago tinha sido colocada pela própria polícia.

Em Julho de 1889, o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, aprovou por proposta do socialista Jules Guesde a instituição do 1º de Maio como data universal para as classes trabalhadoras confraternizarem e reivindicarem o dia normal de oito horas, em homenagem aos mártires de Chicago.

O operariado português também saiu a rua, como aconteceu em muitos outros países, reclamando a redução da jornada de trabalho no dia 1 de Maio de 1890. A iniciativa foi conduzida pela Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa e decorreram em Lisboa e no Porto.

D.Carlos não passou esse dia em Lisboa, saiu para Vila Viçosa a 30 de Abril, regressando no dia 2 de Maio.

Naquele dia do século XIX trabalhadores de todo o mundo responderam à convocação da jornada de luta internacional por melhores condições de vida. E dessa forma homenagearam os mártires de Chicago.

Não se pense contudo que estas foram as primeiras manifestações de "luta operária" em Portugal, segundo José Mattoso, entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de laboração eram as principais exigências dos operários.

Por curiosidade, no dia 4 de Maio, realiza-se em Lisboa um comício operário na Rua Nova da Piedade, onde se falou de Karl Marx.

sábado, 21 de abril de 2007

Abril de 1890-Um mês violento

As eleições de 30 de Março não haviam trazido alterações substancias, afinal os regeneradores voltaram a ganhar a maioria dos assentos na Assembleia Nacional, confirmando o governo do seu líder Serpa Pimentel.

Uma alteração apenas foi produzida no seu gabinete governamental, com a criação do Ministério da Instrução Pública e Belas Artes, transferindo para a responsabilidade ministerial João Marcelino Arroio da pasta da Marinha e Ultramar, onde foi substituído por Júlio de Vilhena.

João Arroio, havia fundado 10 anos antes ainda estudante de Direito em Coimbra o Orfeon Académico de Coimbra, o mais antigo coro português em actividade e seguramente um dos mais antigos da Europa.

Muito embora a confirmação pelo voto nas urnas , da partido do governo, o certo é que a agitação nas ruas e na imprensa afecta aos partidos da oposição não abrandou.

Optou-se então pelo endurecimento, com a publicação de uma nova "Lei das Rolhas" (datava de 1850 a original) pela mão do Ministro da Justiça, Lopo Vaz de Sampaio e Melo, onde se decretavam medidas severas contra a imprensa, que poderiam levar à supressão dos jornais em caso de reincidência .

O Governo pela mesma altura (estávamos em Abril), também decidiu aumentar os efectivos da Guarda Municipal e os vencimentos dos seus membros, numa clara atitude de musculação do regime.

Claro que a imprensa Progressista não se calou considerando que "o governo abolira todos os princípios da Carta Constitucional", mas não excluindo o Rei dos seus ataques perguntando "porque reina o sr. D.Carlos I em vez de D.Miguel II ? (Jornal o Dia em 9-4-1890), numa clara confrontação comparando-o ao herdeiro da linha dinástica absolutista.

A 10 de Abril de 1890, o Rebate um jornal dos estudantes do Porto, tinha publicado em destaque "MORRA O REI" e "O REGICÍDIO PASSA A SER UM DIREITO"

No dia seguinte Guerra Junqueiro publica o Finis Patriae, onde a figura do Rei é ridicularizada, como por exemplo no poema

Papagaio real diz-me quem passa ?
El-rei D.Simão que vai à caça

onde diz na última estrofe

Papagaio real diz-me quem passa ?
É alguém que foi á caça
do caçador Simão

Uma clara alusão ao regicídio.






quarta-feira, 18 de abril de 2007

Eleições de 30 de Março de 1890

(Latino Coelho)

A efervescência política, não terminou com a nomeação do governo de António de Serpa Pimentel, pois o combate político partidário não dava tréguas, sendo o governo obrigado a reagir, perante a convocação de marchas e comícios para Lisboa no dia 11 de Fevereiro, convocado pelo Partido Republicano para a Rua da Palma perto do Martim Moniz.

Pôs os quartéis de prevenção, fez a Guarda Nacional ocupar todos os pontos centrais de Lisboa e proibiu todas as manifestações, que não deixaram por isso de evitar escaramuças, e cerca de 200 presos, entre as quais Manuel de Arriaga, que viria ser meses depois eleito deputado e mais tarde presidente da Republica.

O governo em 10 de Abril dissolve os centros republicanos, na sequência de no mês anterior ter promulgado o direito de associação.

Ao dissolver a Camâra dos Deputados D.Carlos havia dado aos Regeneradores a possibilidade do Governo promulgar leis por decreto sem a prévia aprovação do parlamento, estava instalada a "ditadura", de que aliás, três anos antes, tinham sido os Progressitas a usufruir de poderes semelhantes.

Foram então marcadas eleições para o dia 30 de Março de 1890, sendo o seguinte o seu registo, ocorrendo em clima de grande violência, que provocaram 10 mortos e mais de 40 feridos.

5 049 729 habitantes no continente e ilhas. 1 315 473 cidadãos masculinos maiores de 21 anos. 951 490 eleitores (18,8% da população total; 72,3% da população masculina maior de 21 anos). 169 deputados. 79 por círculos uninominais no continente. 58 por círculos plurinominais no continente, um círculo por cada sede de distrito. 4 por círculos plurinominais nas ilhas. 12 pelo ultramar. 6 deputados por acumulação de votos.

Vitória dos governamentais regeneradores. 115 deputados pelo continente e ilhas. Esquerda Dinástica desaparece e apoia o governo regenerador. 33 deputados progressistas pelo continente e ilhas. 3 deputados republicanos (Elias Garcia, Latino Coelho, Manuel de Arriaga), todos por Lisboa, com o apoio dos progressistas, em lista de protesto.
(retirado de http://www.iscsp.utl.pt/cepp/eleicoes_portuguesas/1890.htm)

A estratégia do Partido Progressista em Lisboa, foi o de manifesto apoio ao Partido Republicano, de modo a poder declarar o resultado como "um desastre para a monarquia", pois como diziam alguns republicanos, era afinal o Partido Progressista despeitado que soprava os "ventos da revolta".

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Partido Republicano Português



(Guerra Junqueiro)

Sendo naturalmente herdeiros do jacobinismo da Revolução Francesa de 1789,o PRP, fora fundado em 1876 a 25 de Março, num jantar para saudar a consolidação do republicanismo em França,mas só começa a ter alguma expressão, após o ultimato inglês, muito embora alguns raros deputados fossem penetrando no parlamento monárquico, que bem embaraçados aliás ficavam por terem de prestar juramento de fidelidade à coroa e à religião católica.

Note-se que até á data do Ultimato, nunca o PRP, teve mais do que 2 deputados, que bem revelava a sua fraca adesão popular.

O anti britanismo, será doravante um elemento indispensável, no entendimento da formação ideológica republicana, ódio muitas vezes cantado por Guerra Junqueiro contra " a cínica Inglaterra, a bêbada imprudente, que roubava as nações pequenas, vendia bíblias aos negros e trocava o Deus dela por borracha e marfim (poema "A Inglaterra" no livro Finis Patriae, 1890)

O programa do P.R.P. resumia-se a reivindicações de carácter exclusivamente político: igualdade (civil e política); liberdade em todas as suas manifestações; governo do povo pelo povo; justiça democrática. Na verdade o republicanismo é tão só um liberalismo que, buscando incorporar uma mística patriótica, ou remoçá-la, concebe a «ideia dum ressurgir da pátria portuguesa» mediante um «governo do povo pelo povo».

Em Coimbra a 20 de Março, um jornal de estudantes publicou um artigo de António José de Almeida com o título "Bragança o último", onde dizia para "o último animal de Bragança de devia "Metê-lo numa das gaiolas centrais do Jardim Zoológico, fazer-lhe ali uma cama de palha e deixá-lo dormir muito tranquilo e muito descansado", que foi considerado insultuoso, valendo-lhe 3 meses de prisão.

Genericamente os republicanos nesta altura, acusavam o rei de não ter assumido pessoalmente o movimento de protesto contra a agressão inglesas, que teria conseguido congregado em seu redor todos os partidos. Em vez disso a sua distância, fizeram dele o rosto da cedência e da passividade.

Na sua ascensão, o republicanismo começou a tornar-se um partido transversal a toda a sociedade, adeptos de todas as classes da sociedade liberal, até mesmo o proletariado, inicialmente mais perto do socialismo, começara a aderir ao republicanismo, bem como proprietários agrícolas como José Relvas, professores universitários, como José Falcão, Teófilo Braga, etc.advogados, médicos, professores, todas as classes da sociedade liberal convergiram a partir daquela data para a solução republicana.

Porém e para além de todas as adesões a questão mais importante consistia no controlo que era exercido por dentro do PRP, pela Maçonaria na pessoa do seu líder e também Grão-mestre José Elias Garcia.

Entidade há muito presente, até aos dias de hoje, na sociedade portuguesa também tinha como iniciado Maçónico José Luciano de Castro, líder do partido progressista, bem como Pinheiro de Melo, alta figura do Grande Oriente Lusitano, presidia á influente Associação dos Lojistas, que funcionou como um dos centros de agitação patriótica em Lisboa.

A Maçonaria era pois o traço comum de união entre a esquerda constitucional.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Nomeação do seu 1ºGoverno Regenerador



(António de Serpa Pimentel)
O governo regenerador de Serpa Pimentel nomeado pelo rei, viu-se desde logo confrontado com uma opinião pública descontente com a atitude de Inglaterra, mas com necessidade de agir com diplomacia sob pena de pôr em risco a soberania portuguesa em Angola e Moçambique.


António de Serpa Pimentel no parlamento, prometeu esforços para a "defesa da maior quantidade possível dos nossos interesses no ultramar, e para defesa completa da nossa dignidade", Traduzido para linguagem comum esta expressão, reflecte a ideia principal de toda a gente, "como ceder salvando a face".


O próprio rei D.Carlos um ano depois em carta dirigida ao seu tio, filho da rainha Vitória, diz que o que lhe interessava era "poder conseguir da Inglaterra não muito, mas apenas o suficiente para dar satisfação ao chauvinismo de muitas pessoas". Curiosamente em resposta o próprio Príncipe de Gales também lhe diz " é preciso que notes que nós também temos que lidar com uma opinião pública que apesar de melhor instruída, é igualmente exigente.


Em última análise, à diplomacia inglesa também não interessaria muito , "apertar" demais com o governo português, para não por em causa a coroa portuguesa, atendendo aos "ventos da ideologia republicana" que sopravam por toda a Europa.


Já em 1885 acontecera situação idêntica entre a Alemanha e a Espanha, em relação à posse das ilhas Carolinas em que os distúrbios ocorridos em Madrid, levantaram muitas vezes a possibilidade duma revolução republicana ocorrer, que só a arbitragem do papa Leão XIII, por indicação do ministro alemão Bismark, resolveu em apoio à Espanha.


Era afinal tudo uma questão de aparências.
Em Portugal, nitidamente as reacções discordantes não aconteciam por amor ás colónias, mas apenas por ódio á Inglaterra. como igualmente aconteceu em Espanha, pois em 1899 quando a Espanha decidiu vender as ilhas Carolinas aos alemães, tudo decorreu dentro da maior indiferença popular.

António de Serpa Pimentel, nascido em, Coimbra, doutorado em matemática pela Universidade de Coimbra, era na ocasião o líder do Partido Progressista, após a morte de Fontes Pereira de Melo. Havia desempenhado várias funções ministeriais e políticas, entre ela a de presidente do Tribunal de Contas, até ser nomeado chefe do Governo pelo rei D.Carlos em 13 de Janeiro de 1890

O Ultimato Inglês-Os dias seguintes

(Henrique Barros Gomes)

O rei convocou de imediato, para o dia seguinte o Conselho de Estado, para se debater a resposta a dar ao ultimato inglês. Se quanto á resposta a dar não havia dúvida de qual seria, a preocupação dominante de todas as forças politicas envolventes, foi a de como salvar a face e se possível ganhar dividendos, assacando culpas a terceiros e alijando responsabilidades.

Nesse dia o D.Carlos, não se pronunciou, limitou-se a ouvir as opiniões e os argumentos evocados, certo de que para além das várias nuances políticas , a resposta só podia ser a da aceitação das exigência inglesas.


O partido Regenerador "esquecido", que a intenções sobre o alargamento da influência portuguesa em África com a criação do mapa cor-de-rosa lhe havia pertencido insinuava que a questão tinha começado, devido á política germanófila de Barros Gomes, o ministro Progressista dos Negócios Estrangeiros do governo de Luciano de Castro, argumentando que uma vez demitidos os progressistas, voltariam as boas relações com os ingleses.


O governo insiste, no ponto de vista que é ao conselho de Estado que cumpre decidir a resposta a dar, como forma evidente de responsabilizar igualmente os regeneradores que ali tinham assento, enquanto espalhavam a ideia que uma armada inglesas se preparava para atacar Lourenço Marques.


A submissão à Inglaterra foi conhecida na manhã de 12 de Janeiro e nessa mesma noite a multidão em Lisboa, enfurecida apedrejou a casa de Barros Gomes e o consulado inglês, mas curiosamente no resto do País nada se passou.

O último acto político de Barros Gomes foi o pedido de desculpas ao representante inglês em Portugal, já que no dia 13 de Janeiro de 1890, Luciano de Castro anunciou na sede do partido que havia pedido a demissão.


No dia 14 do mesmo mês foi anunciado um novo governo presidido por António de Serpa, contra a vontade dos Progressistas que teriam preferido a nomeação dum "governo nacional", independente que deixasse intacta a sua maioria no Parlamento,

Desta forma a nomeação deste governo Regenerador, deixava antever para breve a inevitabilidade de novas eleições.

domingo, 8 de abril de 2007

O Ultimato Inglês-(1890)



(O mapa cor-de-rosa)

O reinado de D.Carlos I não começou bem, sob o ponto de vista das dificuldades políticas que se lhe iriam deparar e que haveriam de determinar a sua queda.


O que viria a denominar-se como a "questão inglesa" contudo, havia começado pelo menos 10 anos antes do início do seu reinado, tendo como origem a orientação política de João de Andrade Corvo, ministro dos Negócio Estrangeiros dos governos de Fontes Pereira de Melo em 1871/77 e em 1878/79 e depois ministro da Marinha e do Ultramar em 1879, que se propôs fazer de Goa e de Lourenço Marques portos ao serviço do império britânico.

A estratégia de Andrade Corvo assentava em três princípios
  • Portugal tem que ter uma visão realista das suas possibilidades e recursos, contrariando as ideias que pretendiam "supor nossa toda a Africa Central e Austral de um a outro mar".Em 1883 quando Andrade Corvo defendia este ponto de vista já tinham surgido as primeiras versões do "mapa-cor-de-rosa", assim denominado por ser assim colorida a área de terreno situado entre os territórios de Angola e Moçambique.
  • Mesmo assim só confinado aos territórios de Angola e Moçambique, Portugal só conseguiria ocupar e desenvolver as suas colónias se se abrir aos capitais e á emigração estrangeira.
  • Defendia igualmente a manutenção da aliança inglesa, explorando-a ao máximo atendendo a que "Portugal sendo uma potência de segunda ordem na Europa, além de um bom governo, boa política e boa administração, precisa de boas alianças.
A oposição Progressista, considerava que esta política como de enfeudamento á Inglaterra, envolvendo nesta acusação o governo de então e a própria coroa.

Contudo uma vez no poder os Progressistas, entre 1879 e 1881, prosseguem os planos de Corvo, invertendo-se os papéis passando os Regeneradores a devolverem-lhes a acusação de traição.

São os meandros habituais da política.


A "questão inglesa" tornou-se assim numa arma de arremesso entre partidos.


Os vários desenvolvimentos acontecidos em torno desta questão aconteceram no reinado anterior.


As variadas mudanças de atitude de Portugal, onde raramente aconteceram procedimentos coerentes, com a atitude realista de Andrade Corvo, fez com que a Inglaterra tenha perdido por completo a paciência para com "uma pequena potência muito irritante que só reage a ameaças" segundo dizia Lord Salisbury o primeiro-ministro, decidiu-se por uma demonstração de força.


Em 11 de Janeiro de 1890 o governo inglês envia uma célebre nota ao governo português que não só faz deitar por terra o sonho de alguns em constituir a África Meridional Portuguesa, assinalada no "Mapa Cor de Rosa"


Com efeito o Governo inglês. exige nessa nota "que se enviem instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países dos Mokololos e Machonos* se retirem" e ameaça ainda que, se uma resposta satisfatória não for dada pelo governo português nessa mesma tarde, a delegação inglesa em Lisboa, abandonará o nosso País imediatamente.


*actual Malawi

quarta-feira, 4 de abril de 2007

A aclamação-28 de Dezembro de 1889

O rei D. Luís morreu no dia 19 de Outubro de 1889 na cidadela de Cascais, tendo sido sepultado no Panteão de São Vicente de Fora no dia 26 do mesmo mês, tendo D.Carlos feito juramento a 28 de Dezembro desse ano.

Após o discurso o alferes-mor do reino o marquês de Sabugosa, dirigiu.se a varanda do palácio de São Bento e agitando a bandeira, fez a proclamação da praxe : "Real, real, pelo muito alto, muito poderoso e fidelíssimo rei de Portugal, o senhor D.Carlos I".

Missa de acção de Graças na Igreja de São Domingos, cerimónia nos paço do concelho, nova aclamação na varanda idêntica à que havia sido proferida em São Bento e inauguração da Avenida D.Carlos I, ligando o chamado Aterro (hoje av.24 de Julho) e o largo de São Bento.

O Governo mantinha-se em funções o que havia sido empossado pelo seu pai em 20 de Fevereiro de 1886, presidido por José Luciano de Castro, líder do partido Progressista.