terça-feira, 25 de março de 2008

Acontecimentos do ano de 1901


  • A ruptura Franquista e a Ignóbil porcaria

O acentuar das divergências há muito evidenciadas entre o chefe do governo Hintze Ribeiro e o deputado João Franco, dentro do Partido de ambos o Regenerador. Em 13 de Fevereiro de 1901, o Sr. João Franco proferiu sobre as concessões no Ultramar um discurso que não agradou ao governo, e que o presidente de conselho considerou de oposição declarada.

Na sessão de 14 de Maio, o deputado Sr. Malheiro Reimão atacou vivamente o projecto relativo à contribuição industrial, e no dia seguinte o Sr. João Franco atacou também esse projecto, explicando desassombradamente à câmara as razões de ordem politica e económica que o levavam a combater esse projecto.

Malheiro Reimão era um deputado amigo de João Franco. Hintze Ribeiro completamente fora de si, tomou a palavra para expulsar Reimão do Partido Regenerador, com a acusação de "na oposição se colocou e na oposição fica".

Este facto trouxe grandes repercussões no parlamento pois cerca de 25 deputados decidiram acompanhar João Franco, provocando uma ruptura na maioria parlamentar ficando apenas 70 do lado do governo de Ribeiro

Este cisão acabará por satisfazer os interesses do governo, pois Hintze conseguiu obter da parte do Rei a dissolução da câmara electiva, medida governamental que foi motivo de grandes controvérsias, porém D.Carlos decidira confiar emHintze dando lhe os meios para expulsar os franquistas do parlamento

Revogada também a lei eleitoral e substituída pela de 8 de Agosto de 1901, que alterou por completo a anterior, realizaram-se as eleições gerais, ficando fora da câmara o João Franco e quase todos os seus amigos políticos. Estava, pois, consumada a cisão, e iniciada a existência dum novo grupo político, que tomou o título de partido regenerador-liberal.

Lei eleitoral de 1901 (Decreto de 8 de Agosto, a chamada ignóbil porcaria). Neste contexto, o governo hintzáceo emitiu a lei eleitoral de 8 de Agosto de 1901, onde, para além de se aumentar o número de deputados (para 157) e de se restaurar o processo de representação das minorias que havia sido extinto em 1895 (foram atribuídos 37 deputados às mesmas), criaram-se 26 grandes círculos plurinominais, 4 dos quais nas ilhas. Segundo o relatório do diploma procurava evitar-se a fragmentação dos partidos em clientelas e, com efeito, os influentes locais, a nível de freguesia e de concelho, deixaram de ter o tradicional poder. Por outro lado, os grandes partidos do sistema saíram altamente beneficiados, dado que o resultado eleitoral passou a ser controlado pelo acordo estabelecido entre o partido no governo e o principal partido da oposição. Naturalmente, os outros membros da oposição, percebendo a manobra, logo protestaram, principalmente João Franco que, num dos seus rasgos de baptismo verbal, logo acusou o diploma de ignóbil porcaria, visando o estabelecimento de uma ditadura eleitoral. Na prática, esta teoria funcionou com nova vitória do governo nas eleições de 6 de Outubro de 1901. Uma vitória de tal monta que os próprios franquistas só conseguiram eleger um deputado por Arganil, que não o respectivo líder. Com efeito, face ao desaparecimento da influência dos caciques locais, tudo passou a ser decidido por um acordo central entre a situação e a oposição, atingindo-se assim o nível do rotativismo puro. O partido no governo, com efeito, só não atingiu as maiorias em Aveiro e do Funchal e os próprios republicanos, apesar de aumentarem a votação, não conseguiram ver nenhum deputado eleito (só em 15 de Dezembro é que Afonso Costa apareceu eleito pelo círculo do Dondo, em Angola).

(Retirado de iscsp.ut)




  • Junho,01-João Arroio abandona o governo, sendo substituído por Matoso dos Santos no ministério dos negócios estrangeiros.
Este abandono por parte de João Arroio também contribuiu para a dissolução do parlamento devido à perda pelo governo do apoio da facção João Arroio do, já enfraquecido pela saída do grupo de João Franco.

Escritor português, natural de Vila do Conde, onde viveu até completar o quinto ano do liceu, após o que continuou a estudar no Porto.
José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, publicou, em Vila do Conde, nos jornais O Democrático e República, os seus primeiros versos. Aos 18 anos, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese «As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa».
Esta foi pouco apreciada, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas então quase desconhecidos, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Esta tese, refundida, veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa (1941).
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença (cujo primeiro número saiu a 10 de Março, vindo a publicar-se, embora sem regularidade, durante treze anos), que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde.

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


quarta-feira, 12 de março de 2008

Movimentação anti-clerical

A filha de José Calmón, cônsul brasileiro no Porto foi raptada em 17 de Fevereiro de 1901, à saída da Igreja da Trindade no Porto, por um grupo de reaccionários, segundo clamou o cônsul. A sua filha de nome Rosa pretendia entrar para um convento contra a oposição da família.

A acusação da influência jesuítica, trouxe grande agitação por todo o País, nomeadamente em Setúbal onde foram mortos dois populares, pelos militares, na Avenida Luisa Todi, em sequência das manifestações, e em Lisboa

De qualquer forma esse incidente também serviu para acentuar a radicalização política, a partir duma questão religiosa que foi o pretexto para o aparecimento de movimentos anticlericais monárquicos, como a Liga Liberal, (em 25 de Abril), dirigida por José Dias Ferreira, e a Junta Liberal Republicana(em 30 de Abril), de Miguel Bombarda, enquanto os católicos se organizam, com destaque para a criação em Coimbra do Centro Nacional Académico, base do Centro Académico da Democracia Cristã (em 16 de Março de 1901)

O inquérito mandado abrir pelo governo a 10 de Março e mandará em sequência do mesmo, encerrar várias casas religiosas, chegando mesmo a proibir o noviciado, por decreto de 18 de Abril, muito embora tenha confirmado autorização às obras religiosas que se dedicassem à beneficência.

Dum modo satisfatório e equilibrado havia o governo conseguido sair o governo, conseguindo inclusivamente obter grande aplauso para o rei quando a 14 de Abril aparece publicamente numa tourada no Campo Pequeno.

Difícil será contudo suster a crise que a ruptura com João Franco irá acentuar como se verá depois.


sábado, 8 de março de 2008

Acontecimentos no ano de 1900(2ª Parte)

Depois da morte de António de Serpa e a liderança assumida no Partido Regenerador por Hintze Ribeiro, perante a demissão de José Luciano, obviamente que a chefia do governo seguinte só poderia ser entregue pela segunda vez a Hintze Ribeiro.

De imediato João Franco anuncia que não fará parte do novo executivo,(por certo desnecessário esse anúncio), na esperança ténue que o rei não convidasse Ribeiro para esse cargo.
  • Anselmo José Franco Assis de Andrade, na fazenda, em Novembro substituído por Fernando Matoso dos Santos.
  • António Teixeira de Sousa, para a pasta da marinha e ultramar
  • José Gonçalves Pereira dos Santos , nas obras públicas, em Novembro substituído por Manuel Francisco Vargas
  • João Marcelino Arroio nos estrangeiros.
  • Artur Alberto Campos Henriques na justiça
  • Pimentel Pinto na guerra
  • Hintze Ribeiro acumulando com a pasta do reino
A subtileza de Ribeiro em convocar Campos Henriques e Teixeira de Sousa, aliados de João Franco para o governo foi uma acha mais para a grande fogueira da rivalidade e da disputa entre ambos.

Em Maio de 1900, na Assembleia, porque um deputado regenerador se atreveu a criticar uma proposta do governo, Ribeiro expulsa-o de imediato do partido, Essa celeuma fractura os regeneradores dum forma concreta cindindo-se em 25 deputados para o lado de Franco e 75 para o de Ribeiro.


Este facto foi o argumento para Hintze conseguir de D.Carlos nova dissolução do parlamento, que lha concedeu, dando lhe os meios para através de novas eleições expulsar os "franquistas" do parlamento, agora agrupados como regeneradores liberais.

As eleições que se seguiram em 25 de Novembro, trouxeram como seria de esperar (o governo ganha sempre as eleições como era tradicional), a vitória dos partidários de Hintze. Desta vez não são eleitos deputados republicanos, apesar do partido aumentar as votações.

Apenas surgem como independentes Mariano de Carvalho, Augusto Fuschini, o visconde de Mangualde e José Dias Ferreira.

  • Agosto, 16 - Morte de Eça de Queirós em Paris.

Morre em Paris onde desempenhava as funções de cônsul-geral. tendo cursado Direito, dedicou-se desde cedo à carreira diplomática tendo saído novo de Portugal.


Humor irónico e uma arte narrativa de grande riqueza caracterizou como ninguém a sociedade portuguesa do século XIX.
Para ler mais sobre Eça clicar aqui
  • Dezembro, 28 - Morte de Serpa Pinto
Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto, figura mais ilustre do concelho de Cinfães, nasceu em 1846 na Quinta das Poldras, freguesia de Tendais. Passou grande parte da sua infância no Brasil, tendo ingressado em 1858 no Colégio Militar, em Lisboa.

Cursou direito em Coimbra, curso que viria a abandonar para se dedicar por inteiro à carreira militar Em 1877 enceta a exploração e travessia científica no continente africano que o tornou célebre.

Em 1881 é publicada a obra da sua autoria intitulada: "Como Eu Atravessei a África". Em 1900 é eleito deputado pelo círculo de Cinfães.

Falece em Dezembro deste mesmo ano sendo sepultado no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde jaz.

Retirado de :Concelho de Cinfães